Blog Do Bem

domingo, 1 de dezembro de 2013

O protesto de 17 de junho de 2013

Depoimentos dos historiadores e jornalistas sobre o que eles viram e o que eles registraram nesse dia que vai ser lembrado, estudado, pesquisado no futuro.

 Revista de História

Multidão sobe as escadarias do Theatro Municipal / Foto: Bernardo Santos






Multidão sobe as escadarias do Theatro Municipal / Foto: Bernardo Santos

Dezessete de junho de 2013. Uma data que provavelmente vai ficar para a História. Foi quando cerca de 100 mil pessoas se reuniram, segundo estimativas, e apenas no Rio, em um protesto multifacetado, que se iniciou há poucas semanas contra o aumento das passagens de ônibus municipais, mas que agora parece juntar outras reivindicações. A redação da Revista de História fica a uma quadra da Avenida Rio Branco, onde ocorreu a manifestação no Rio e muitos dos nossos historiadores e jornalistas participaram do movimento. Vamos publicar, ao longo do dia, os seus depoimentos sobre o que eles viram, o que eles registraram nesse dia que vai ser lembrado, estudado, pesquisado no futuro.

Carolina Ferro - Historiadora
A concentração na Candelária estava marcada para as 17 horas, mas meus amigos e eu saímos do trabalho por volta de 17:30h. Caminhamos pela rua Uruguaiana, paralela a Rio Branco por onde passaria a manifestação. No caminho, vimos inúmeros policiais municipais ajudando pessoas a encontrar o protesto e vários manifestantes preocupados em comprar máscaras para se proteger do gás lacrimogêneo. Foi bonito ver as pessoas caminhando de branco, mas foi feio vê-las carregando lenços no rosto encharcados de vinagre. Ao chegar à Avenida Presidente Vargas, nos juntamos à multidão que portava faixas contra o aumento da passagem, mas também a favor de outras melhorias para a população, principalmente na saúde e na educação. Era visível que o movimento não era por 20 centavos, mas por 20 X 20 motivos de insatisfação de uma população que vem sendo negligenciada por muitos anos pelo poder público. Ao chegar à famosa Avenida Rio Branco, muitos rostos se encheram de lágrimas. Foi belo ver que além dos muitos jovens que gritavam com todas as forças, havia idosos, cadeirantes, homens e mulheres de roupas sociais e artistas. De fato é um movimento do povo na maior amplitude da palavra. Do alto dos arranha-céus do centro financeiro, cultural e comercial da cidade, trabalhadores acompanhavam a passeata piscando suas luzes, abanando panos brancos e jogando papel picado. Voltamos mais cedo e, como bons historiadores, fomos ver as notícias. Vimos fotos de mais de 100 mil pessoas caminhando por justiça, mas também algumas com dezenas de indivíduos que se exaltaram demais em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A tristeza tomou conta da alegria. “Não queremos violência”, era o que dizia um dos gritos dos manifestantes. E com certeza não é o que quer a maioria. Queremos paz, mas queremos paz com voz, sem medo.

Felipe Rodrigues - Estudante de História
Ontem, 17/06/2013, foi um dia que ficou na história do Brasil. A “Revolta do Vinagre”, como está sendo chamada, levou mais de 100 mil pessoas as ruas, segundo estimativa da Coppe/UFRJ (a PM estima em 40 mil). Para mim, concluinte do curso de História da Uerj/FFp, a passeata significou uma aula na prática de como exercer a cidadania, exigindo seus direitos. Discutimos tanto nas salas fechadas das Universidades questões como “Democracia”, “Direitos”, “Estado”, “Representação Política”; conceitos tão fechados que parecem distantes do nosso cotidiano. Ontem essa distância ruiu junto com o sentimento de impotência que assolava o povo brasileiro há anos! Foi lindo ver pessoas tão diferentes em sua individualidade, mas com um sentimento único, conectadas em um só coro: O RIO ACORDOU! E não só o Rio de Janeiro, mas todo o Brasil e brasileiros, já que em várias partes do mundo houve manifestação. Pude presenciar e fazer parte de uma das maiores manifestações espontâneas que a sociedade brasileira já presenciou. Foi uma mistura de satisfação, revolta, orgulho e alegria o que passei naquelas horas entre a Av. Presidente Vargas e a Rio Branco. O que posso afirmar é que o meu sentimento e tudo aquilo que presenciei na passeata não sairá da minha mente e do meu coração. Minha vida está dividida entre o antes e o depois do dia 17/06/2013.

Janine Justen - Estudante de jornalismo
Nada como ser mais um na multidão. Sim, de fato, uma multidão. Mais de 100 mil pessoas que gritavam por seus direitos e exigiam respostas de um governo falacioso, de interesses para lá de questionáveis. Na Avenida Rio Branco, indignação foi a palavra de ordem nesta segunda-feira. Estamos fazendo, escrevendo História. Tenho orgulho de fazer parte disso, como cidadã e jornalista. Muda, Brasil! Rumo a uma real democracia.

Joice Santos - Historiadora
Ir à manifestação ontem foi praticamente uma jornada. Desde cedo um clima de pavor e animação tomavam conta de mim. De pavor, pois desde cedo a mídia noticiava o número de soldados, cavalaria, paraquedistas e cachorros dispensados para o evento, além de um receio de um confronto com a polícia. Apesar desse sentimento, segui o dia marcando lugares e horários com alguns amigos que também pretendiam ir à manifestação.
Uma hora antes do evento, surgiram, nas redes sociais, notícias de que a polícia estava revistando os manifestantes que chegavam às estações de metrô e/ou recolhendo celulares – notícias que não foram ou não podem ser confirmadas. O que aumentou ainda mais o clima de tensão. No entanto, o desejo de fazer parte da manifestação, lutar pelos nossos direitos tornou-se maior que qualquer temor e fez com quem não pensava em ir à manifestação fosse.
O grupo, do qual fazia parte, decidiu ir pela Rua Uruguaiana já que a manifestação havia começado na Av. Rio Branco, havia muitos guardas municipais e policiais ao longo do trajeto mas não foi um impedimento para que nós e outras pessoas seguíssemos até a Avenida Presidente Vargas.
Lá chegando, encontramos um enorme grupo de manifestantes, a maioria de jovens, cantando, gritando palavras de ordem, articulando formas de dispersão e encontro caso houvesse algum embate, levantando seus cartazes com diversas demandas. Não tinha como não se emocionar com os que acreditam que é possível lutar por direitos saindo às ruas e, com isso, provocar mudanças. E eu ainda nem havia chegado na av. Rio Branco.
Quando enfim conseguimos entrar na avenida principal, foi impactante ver aquela multidão cantando, pessoas no prédio piscando as luzes à medida que passávamos e gritávamos: “Quem apoia piscaa luz, quem apoia piscaluz”. Mais impactante foi percorrer praticamente toda a Rio Branco sem ter visto uma discussão e nem um princípio de briga.
Num dado momento, escutamos um carro de som, se não me engano da UNE, e todo mundo abriu passagem quando o homem que estava no caminhou falou ao microfone: “Já somos 50 mil, galera!”. Os manifestantes foram à loucura. Foi emocionante! Não só por estar na passeata, mas por terem 50 mil pessoas acreditando na mobilização.
Não fiquei até o final da manifestação. Só quando estava indo pra casa soube que a manifestação havia levado 100 mil pessoas às ruas e que um grupo bem menor havia iniciado atos de vandalismo na Alerj e no Paço Imperial. Discordo de atos que depredam os espaços públicos, seja dos eventos que aconteceram ontem quanto os que acontecem diariamente como o sucateamento do ensino e da saúde.
Ao fim da manifestação, fiquei com a sensação de que é possível uma mobilização da população para lutar por suas reivindicações. Com os eventos de ontem, também fiquei com uma questão: onde queremos chegar? Ou, qual é ou quais são nossos principais objetivos?
Mais cedo um amigo postou um trecho de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll,que talvez nos ajude a pensar sobre isso:
“Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.”

Agora que todos foram mobilizados, acho que é chegada a hora de definir exatamente pra onde queremos ir, só assim podemos estabelecer o melhor percurso.

Roberta Souza - Historiadora
Dessa vez é diferente. Os cidadãos não "assistiram alheios a tudo". Não é fato que estamos saindo do trabalho, dando menos atenção aos nossos filhos, por 20 centavos. Estamos lutando pra fazer prevalecer o que está estabelecido na Constituição. Que a manifestação das ruas seja refletida nas urnas.

Ronaldo Pelli – Jornalista
Foi uma festa. E como toda festa, há os com-noção e os sem-noção, sendo “noção” aqui entendida em vários sentidos. Seja o de ter alguma ideia do que estava acontecendo, seja o de perder o respeito pelos outros.  E como toda festa também, havia animação. A Orquestra Voadora estava presente. Havia gritos de carnaval. Gritos do futebol. Será que precisamos mesmo aprender a protestar? Por que todo protesto deve ter raiva mesmo? Havia muito humor também nos cartazes: “R$ 2,95? Só com open bar”, dizia um, em referência o novo preço da passagem dos ônibus do Rio. “Ei polícia / vinagre é uma delícia”, gritavam outros.
“O gigante acordou” era um dos “slogans” mais pronunciados. “Slogans”, não gritos de guerra, não gritos de ordem. “Fora... (acrescente o nome de um político no cargo executivo)” era outro. Nenhuma esfera do governo foi perdoada.
Fiquei parado durante um tempo na Avenida Rio Branco, perto da Avenida Sete de Setembro, a rua que leva à redação da Revista de História. Algo como uma hora. Parado, vendo o movimento de uma multidão que descia a antiga Avenida Central em direção à Cinelândia. Eram vários blocos compactos de manifestantes. Os primeiros, os que iam à frente de todos, talvez não fossem quem mais representava a maioria. Porque empunhavam flâmulas partidárias, que foram rechaçadas pelo restante do grupo aos gritos de “abaixa a bandeira / abaixa a bandeira”. Os protestos parecem deixar uma informação clara: a política partidária, como nós a conhecemos agora, “não me representa”, para usar uma expressão atual.
Em outro “bloco”, um minicarro de som. A moça no microfone, provavelmente uma paulista, pede para todo mundo abaixar, e depois, todo mundo se levanta numa catarse coletiva. Era uma festa, uma festa com gente não convidada.
Ao meu lado, estavam três catadores de papel, atividade que é forte na região. Era a hora de eles trabalharem. Estavam lá, assistindo a tudo, ao meu lado, entre o entediado e o bocejante. Em certo momento, passa um sujeito com um cartaz cheio de informações e para em frente a eles, como que quisesse mostrar algo. Só sai quando um dos catadores acena com a cabeça, como se dissesse, já entendi, agora você me dá licença?
Ao sair da manifestação, me lembrei de Machado de Assis, e de suas “Memórias póstumas de Brás Cubas”. Logo no início do livro, na sua dedicatória ao leitor, o defunto autor fala que escreveu suas memórias com “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”. Talvez, nessa frase, Machado tenha identificado o caráter do povo brasileiro, de uma maneira que quase ninguém mais percebeu. Na manifestação, essa nossa “galhofa” aparecia em cada um dos momentos festivos, cada uma das piadas, das músicas, das gracinhas. Já a melancolia foi o que nos levou às ruas. Após uma década acumulando essa bile amarga, a gota de uma moeda imaginária de 20 centavos, transbordou o pote. Agora, a melancolia se travestiu de manifestações bem menos passivas. Uma melancolia que às vezes pode ser até raivosa.

Angélica Barros - Historiadora
Infelizmente não pude estar presente na passeata de ontem, mas acompanhei pelos meios de divulgação a movimentação que ocupava toda a avenida Rio Branco no Centro do Rio. A imagem era linda de se ver! Um mundaréu de gente com luzes e faixa, iluminando toda a avenida com seus gritos e desejos, que sabemos, não são apenas por um aumento de passagem. Os gritos, e me incluo aqui, são um basta. Basta de tanta corrupção, de receber garganta abaixo tudo que estes governos impõem. Chega de tanta violência, de tanto desejar mudanças e não se obter respostas. Os gritos vinham de um sentimento profundo de insatisfação do povo brasileiro contra um Estado que há muito deixou de responder às necessidades mais primárias dessa sociedade. E foi lindo ver tanta gente renascendo, outros iniciando suas lutas e muitos aderindo a essa voz uníssona. Me senti representada pelos amigos que participaram. Tanto como professora de História quanto como cidadã, é maravilhoso perceber que os adolescentes estão querendo participar, querem se informar, estar presente. Recebo mensagens dos meus alunos perguntando sobre o movimento, pedindo para saber mais, vendo nessa luta de hoje um espelho das buscas do passado. Um deles me disse que essa manifestação será a queda da nossa Bastilha. Salvando dos exageros, essa frase ficou marcada. Tenho certeza que muitos deles engrossaram as fileiras no pedido de ontem. Basta! Basta! Basta!

Gabriela Nogueira Cunha - Estudante de jornalismo
Fomos 100 mil da Candelária até a Cinelândia, hoje, e não existem palavras pra descrever o que eu senti por fazer parte daquilo. Meio atrapalhada em alguns momentos, não sabia se filmava, se cantava junto ou se parava pra admirar o que estava acontecendo a minha volta. Estávamos entrando para a história, com toda certeza. Cem mil, na Rio Branco, dá pra imaginar? Acho que não, só dá pra sentir.
Eu estive no meio do caos, também. Ouvi as bombas cada vez mais próximas, nos arredores do Paço Imperial, e as pessoas correndo assustadas. Senti a garganta fechar por causa do gás e, em meio ao caos, manifestantes pedindo paz e me perguntando se eu tinha vinagre e se queria um pouco no meu cachecol. Vi fogo. Vi fumaça. Ouvi barulhos que não soube identificar. Não sei quem começou o que. Me preocupei pelos amigos que não via desde a passeata e pelo meu irmão que correu pro lado oposto do meu no primeiro "boom". As notícias mais claras vinham por Whatsapp, de quem acompanhava de casa, pela internet. "Não vai pra Alerj!" E eu pensando "Mas já tô aqui, fudeu".
O que eu posso afirmar de tudo que vi é que hoje foi único e foi lindo. E foi pacífico, enquanto deu. O que aconteceu na Alerj não pode deslegitimar os 100 mil da Rio Branco. A causa é justa e estamos nas ruas por direito e por direitos.
Obrigada aos que ficaram comigo até o final, obrigada a todos que tentaram me encontrar no meio da passeata, obrigada pelos telefonemas preocupados e pelos "breaking news" via Whatsapp avisando que "o congresso foi tomado!".

Nataraj Trinta
Rio de vergonha, Rio de agonia, Rio de revolta, Rio de muitos que lutam todo o dia e que sofrem as violências de um Estado que não dialoga, não se pronuncia, mas bate, mata e prende sem piedade e de preferência na calada da noite e sem a cobertura da grande mídia.
Ora, leitor, você não viu hoje na chamada do jornal do estado vizinho o que poderia ser uma piada, se não fosse realidade: “Cabral e Beltrame não comentam protestos e dizem que questão é com a PM“? Qual leitora bem informada não sabe que vândalos, usando símbolos do Estado destroem a cidade e mais de 7 mil famílias ficarão sem casa por causa deles!?
Quem não tem acompanhado as ações de terroristas fardados, também conhecidos como integrantes do Batalhão de Choque, reprimindo de modo truculento a Aldeia Maracanã, avançando em populares dentro e fora de favelas e agindo brutalmente contra manifestações pacíficas com balas de borracha, spray de pimenta, gás lacrimogênio e prisões arbitrárias?
As passeatas que iniciaram com a luta pela redução de centavos em Porto Alegre ganhou no Brasil o aspecto de reivindicação por direito à mobilidade e principalmente direito à democracia participativa.
Como historiadora, pensar a passeata do dia 17 de junho como um ato isolado é não encarar uma sucessão fatos que revelam abusos e arbitrariedades do poder estatal e a crescente mobilização popular (que não começou nem ontem, muito menos esse ano).  Não podemos empobrecer o caráter de manifestações que devem, sim, ser motivos de orgulho exatamente por serem compostas por massas (críticas).
Como cidadã, fico esperançosa que essa série de manifestações não terminem em megaeventos tipo passeatas. Mas seja o início do aprofundamento de debates, criações de coletivos e mais transparência e participação da população nas decisões políticas.
Não faltou emoção ontem na passeata dos mais de 100 mil manifestantes no Rio de Janeiro. Olhos mareados de orgulho e vontades de mudanças se misturavam a slogans bem humorados e ditos a plenos pulmões. Papéis picados soltados por aqueles que participavam das janelas, luzes piscando, pessoas curiosas vendo da janela o que podiam... Todos se sentindo parte de um dia histórico. Parte de um movimento popular.
Mas para se sentir participando, é imprescindível se colocar no lugar de povo e isso a maioria da classe média faz com muita parcimônia. O bom mesmo é fazer a fina enquanto todos agem pacificamente e correr para as casas para acompanhar as notícias. Ou estar lá, mas não se deixar levar tanto pelas emoções ou revoltas e entender tudo como uma festa cívica com todo o tipo de gente.
Não faltaram algumas bandeiras dos partidos políticos (sempre os mesmos partidos políticos de esquerdas que apoiam lutas e reivindicações populares) e muitas críticas à possibilidade de cooptação política partidária de um evento construído por um emaranhado de vozes que por vezes se uniam e outras soavam dissonantes.
Toda sorte de pessoas em um evento que foi uma ode à democracia e ao direito de expressar descontentamentos com o Estado em seus diversos níveis de autoritarismo e pouco diálogo.
Criticas à presidenta Dilma? Sim, mas não eram a maioria. A maioria bradava contra os omissos chefes da casa executiva em nosso Estado e maravilhoso Município ou por questões amplas, porém concretas: contra os investimentos em estádios e descaso na educação e saúde, contra políticas como o estatuto do nascituro, pelo direito de ir e vir com dignidade, contra especulação imobiliária, pelo direito a voz e a respeitabilidade em protestos.
Para onde nós iremos? Bom, para termos realmente o “nós”, o processo está só no início. As redes sociais startaram a reunião dessa tal massa crítica, mas ainda precisamos aprofundar os encontros, exercitar o diálogo e a vontade de ouvir as vozes de “nós” na massa e da massa em nós. Próximo encontro: Hackday transporte público Rio.

Nathália Fernandes - Estudante de História
A História quem escreve somos nós.
Tenho muito orgulho em dizer que o último dia 17 de Junho do ano de 2013, foi um dia histórico. E por mais clichê que isso possa parecer - considerando do lugar de onde falo e que esse lugar me dá o falso aval de dizer o que é ou não História -, afirmo isso sem medo de errar ou de cometer o maior dos exageros. Acredito que a minha geração - tão descrente do sistema de Governo que temos no Brasil hoje e tão cansada dessa gente que não nos representa – não tinha sentido, de fato, a sua força política e o seu poder diante dos acontecimentos da História. E para mim, o dia 17 de Junho de 2013 foi um dia histórico, pois a minha geração sentiu isso pela primeira vez.
Infelizmente, assisti toda a mobilização passivamente. Estava em casa, doente, assistindo tudo pela televisão. Assisti a toda movimentação sem acreditar muito no que estava acontecendo. Primeiro, pela própria mobilização em si. A história oficial não destaca a sociedade brasileira como uma sociedade que luta pelos seus direitos. Segundo, pela organização do movimento que envolveu algumas das mais importantes capitais brasileiras. No caso do Rio de Janeiro, o que me chama mais atenção é a multidão que se reuniu no Centro da Cidade. A Banda “Paralamas do Sucesso” foi um tanto quanto profética ao dizer “Se essa Palhaçada fosse na Cinelândia / Ia juntar muita gente pra pegar na saída / Pra fazer Justiça uma vez na vida”.
Ver a população colocando o seu “bloco na rua”, sem nem mesmo ser Carnaval, durante um evento esportivo internacional relacionado ao esporte símbolo da cultura e identidade nacionais – o Futebol -, me fez pensar como a intelectualidade está errada sobre os brasileiros. E como nós, enquanto sociedade, estamos enganados sobre nós mesmos. Quebramos com a visão torpe que temos sobre nós mesmos e, de repente, estamos começando a avançar na reflexão – e ação – diante de conceitos como Cidadania, Democracia, Sociedade, Política.
Não, Futebol não é o ópio do povo brasileiro. Não, não nos aglomeramos na Avenida Rio Branco para assistir, apenas, ao Desfile do Monobloco. Não, não somos burros, desorganizados ou desleixados. Fomos capazes de organizar um movimento de grandes proporções em um país com proporções imensas, onde todos os envolvidos falavam a mesma voz. A História é feita pelos seus agentes e é feita de transformações. Que esse evento seja um importante episódio para que tenhamos consciência de que nós construímos o nosso presente e futuro, ou seja, a nossa História. Por que a História não é feita só do que passou. E que também possamos ter a consciência de que a História de um coletivo é construída, escrita coletivamente. E que esse seja o primeiro passo para grandes transformações na sociedade brasileira.







 


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