Depoimentos dos historiadores e jornalistas sobre o que eles viram e
o que eles registraram nesse dia que vai ser lembrado, estudado,
pesquisado no futuro.
Revista de História
Multidão sobe as escadarias do Theatro Municipal / Foto: Bernardo Santos
Dezessete de junho de 2013. Uma data que provavelmente vai ficar para a
História. Foi quando cerca de 100 mil pessoas se reuniram, segundo
estimativas, e apenas no Rio, em um protesto multifacetado, que se
iniciou há poucas semanas contra o aumento das passagens de ônibus
municipais, mas que agora parece juntar outras reivindicações. A redação
da Revista de História fica a uma quadra da Avenida
Rio Branco, onde ocorreu a manifestação no Rio e muitos dos nossos
historiadores e jornalistas participaram do movimento. Vamos publicar,
ao longo do dia, os seus depoimentos sobre o que eles viram, o que eles
registraram nesse dia que vai ser lembrado, estudado, pesquisado no
futuro.
Carolina Ferro - Historiadora
A concentração na Candelária estava marcada para as 17 horas, mas meus
amigos e eu saímos do trabalho por volta de 17:30h. Caminhamos pela rua
Uruguaiana, paralela a Rio Branco por onde passaria a manifestação. No
caminho, vimos inúmeros policiais municipais ajudando pessoas a
encontrar o protesto e vários manifestantes preocupados em comprar
máscaras para se proteger do gás lacrimogêneo. Foi bonito ver as pessoas
caminhando de branco, mas foi feio vê-las carregando lenços no rosto
encharcados de vinagre. Ao chegar à Avenida Presidente Vargas, nos
juntamos à multidão que portava faixas contra o aumento da passagem, mas
também a favor de outras melhorias para a população, principalmente na
saúde e na educação. Era visível que o movimento não era por 20
centavos, mas por 20 X 20 motivos de insatisfação de uma população que
vem sendo negligenciada por muitos anos pelo poder público. Ao chegar à
famosa Avenida Rio Branco, muitos rostos se encheram de lágrimas. Foi
belo ver que além dos muitos jovens que gritavam com todas as forças,
havia idosos, cadeirantes, homens e mulheres de roupas sociais e
artistas. De fato é um movimento do povo na maior amplitude da palavra.
Do alto dos arranha-céus do centro financeiro, cultural e comercial da
cidade, trabalhadores acompanhavam a passeata piscando suas luzes,
abanando panos brancos e jogando papel picado. Voltamos mais cedo e,
como bons historiadores, fomos ver as notícias. Vimos fotos de mais de
100 mil pessoas caminhando por justiça, mas também algumas com dezenas
de indivíduos que se exaltaram demais em frente à Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro. A tristeza tomou conta da alegria. “Não queremos
violência”, era o que dizia um dos gritos dos manifestantes. E com
certeza não é o que quer a maioria. Queremos paz, mas queremos paz com
voz, sem medo.
Felipe Rodrigues - Estudante de História
Ontem, 17/06/2013, foi um dia que ficou na história do Brasil. A
“Revolta do Vinagre”, como está sendo chamada, levou mais de 100 mil
pessoas as ruas, segundo estimativa da Coppe/UFRJ (a PM estima em 40
mil). Para mim, concluinte do curso de História da Uerj/FFp, a passeata
significou uma aula na prática de como exercer a cidadania, exigindo
seus direitos. Discutimos tanto nas salas fechadas das Universidades
questões como “Democracia”, “Direitos”, “Estado”, “Representação
Política”; conceitos tão fechados que parecem distantes do nosso
cotidiano. Ontem essa distância ruiu junto com o sentimento de
impotência que assolava o povo brasileiro há anos! Foi lindo ver pessoas
tão diferentes em sua individualidade, mas com um sentimento único,
conectadas em um só coro: O RIO ACORDOU! E não só o Rio de Janeiro, mas
todo o Brasil e brasileiros, já que em várias partes do mundo houve
manifestação. Pude presenciar e fazer parte de uma das maiores
manifestações espontâneas que a sociedade brasileira já presenciou. Foi
uma mistura de satisfação, revolta, orgulho e alegria o que passei
naquelas horas entre a Av. Presidente Vargas e a Rio Branco. O que posso
afirmar é que o meu sentimento e tudo aquilo que presenciei na passeata
não sairá da minha mente e do meu coração. Minha vida está dividida
entre o antes e o depois do dia 17/06/2013.
Janine Justen - Estudante de jornalismo
Nada como ser mais um na multidão. Sim, de fato, uma multidão. Mais de
100 mil pessoas que gritavam por seus direitos e exigiam respostas de um
governo falacioso, de interesses para lá de questionáveis. Na Avenida
Rio Branco, indignação foi a palavra de ordem nesta segunda-feira.
Estamos fazendo, escrevendo História. Tenho orgulho de fazer parte
disso, como cidadã e jornalista. Muda, Brasil! Rumo a uma real
democracia.
Joice Santos - Historiadora
Ir à manifestação ontem foi praticamente uma jornada. Desde cedo um
clima de pavor e animação tomavam conta de mim. De pavor, pois desde
cedo a mídia noticiava o número de soldados, cavalaria, paraquedistas e
cachorros dispensados para o evento, além de um receio de um confronto
com a polícia. Apesar desse sentimento, segui o dia marcando lugares e
horários com alguns amigos que também pretendiam ir à manifestação.
Uma hora antes do evento, surgiram, nas redes sociais, notícias de que a
polícia estava revistando os manifestantes que chegavam às estações de
metrô e/ou recolhendo celulares – notícias que não foram ou não podem
ser confirmadas. O que aumentou ainda mais o clima de tensão. No
entanto, o desejo de fazer parte da manifestação, lutar pelos nossos
direitos tornou-se maior que qualquer temor e fez com quem não pensava
em ir à manifestação fosse.
O grupo, do qual fazia parte, decidiu ir pela Rua Uruguaiana já que a
manifestação havia começado na Av. Rio Branco, havia muitos guardas
municipais e policiais ao longo do trajeto mas não foi um impedimento
para que nós e outras pessoas seguíssemos até a Avenida Presidente
Vargas.
Lá chegando, encontramos um enorme grupo de manifestantes, a maioria de
jovens, cantando, gritando palavras de ordem, articulando formas de
dispersão e encontro caso houvesse algum embate, levantando seus
cartazes com diversas demandas. Não tinha como não se emocionar com os
que acreditam que é possível lutar por direitos saindo às ruas e, com
isso, provocar mudanças. E eu ainda nem havia chegado na av. Rio Branco.
Quando enfim conseguimos entrar na avenida principal, foi impactante
ver aquela multidão cantando, pessoas no prédio piscando as luzes à
medida que passávamos e gritávamos: “Quem
apoia piscaa luz, quem
apoia piscaluz”. Mais impactante foi percorrer praticamente toda a Rio Branco sem ter visto uma discussão e nem um princípio de briga.
Num dado momento, escutamos um carro de som, se não me engano da UNE, e
todo mundo abriu passagem quando o homem que estava no caminhou falou
ao microfone: “Já somos 50 mil, galera!”. Os manifestantes foram à
loucura. Foi emocionante! Não só por estar na passeata, mas por terem 50
mil pessoas acreditando na mobilização.
Não fiquei até o final da manifestação. Só quando estava indo pra casa
soube que a manifestação havia levado 100 mil pessoas às ruas e que um
grupo bem menor havia iniciado atos de vandalismo na Alerj e no Paço
Imperial. Discordo de atos que depredam os espaços públicos, seja dos
eventos que aconteceram ontem quanto os que acontecem diariamente como o
sucateamento do ensino e da saúde.
Ao fim da manifestação, fiquei com a sensação de que é possível uma
mobilização da população para lutar por suas reivindicações. Com os
eventos de ontem, também fiquei com uma questão: onde queremos chegar?
Ou, qual é ou quais são nossos principais objetivos?
Mais cedo um amigo postou um trecho de
Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll,que talvez nos ajude a pensar sobre isso:
“Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.”
Agora que todos foram mobilizados, acho que é chegada a hora de definir
exatamente pra onde queremos ir, só assim podemos estabelecer o melhor
percurso.
Roberta Souza - Historiadora
Dessa vez é diferente. Os cidadãos não "assistiram alheios a tudo". Não
é fato que estamos saindo do trabalho, dando menos atenção aos nossos
filhos, por 20 centavos. Estamos lutando pra fazer prevalecer o que está
estabelecido na Constituição. Que a manifestação das ruas seja
refletida nas urnas.
Ronaldo Pelli – Jornalista
Foi uma festa. E como toda festa, há os com-noção e os sem-noção, sendo
“noção” aqui entendida em vários sentidos. Seja o de ter alguma ideia
do que estava acontecendo, seja o de perder o respeito pelos outros. E
como toda festa também, havia animação. A Orquestra Voadora estava
presente. Havia gritos de carnaval. Gritos do futebol. Será que
precisamos mesmo aprender a protestar? Por que todo protesto deve ter
raiva mesmo? Havia muito humor também nos cartazes: “R$ 2,95? Só com
open bar”, dizia um, em referência o novo preço da passagem dos ônibus
do Rio. “Ei polícia / vinagre é uma delícia”, gritavam outros.
“O gigante acordou” era um dos “slogans” mais pronunciados. “Slogans”,
não gritos de guerra, não gritos de ordem. “Fora... (acrescente o nome
de um político no cargo executivo)” era outro. Nenhuma esfera do governo
foi perdoada.
Fiquei parado durante um tempo na Avenida Rio Branco, perto da Avenida
Sete de Setembro, a rua que leva à redação da Revista de História. Algo
como uma hora. Parado, vendo o movimento de uma multidão que descia a
antiga Avenida Central em direção à Cinelândia. Eram vários blocos
compactos de manifestantes. Os primeiros, os que iam à frente de todos,
talvez não fossem quem mais representava a maioria. Porque empunhavam
flâmulas partidárias, que foram rechaçadas pelo restante do grupo aos
gritos de “abaixa a bandeira / abaixa a bandeira”. Os protestos parecem
deixar uma informação clara: a política partidária, como nós a
conhecemos agora, “não me representa”, para usar uma expressão atual.
Em outro “bloco”, um minicarro de som. A moça no microfone,
provavelmente uma paulista, pede para todo mundo abaixar, e depois, todo
mundo se levanta numa catarse coletiva. Era uma festa, uma festa com
gente não convidada.
Ao meu lado, estavam três catadores de papel, atividade que é forte na
região. Era a hora de eles trabalharem. Estavam lá, assistindo a tudo,
ao meu lado, entre o entediado e o bocejante. Em certo momento, passa um
sujeito com um cartaz cheio de informações e para em frente a eles,
como que quisesse mostrar algo. Só sai quando um dos catadores acena com
a cabeça, como se dissesse, já entendi, agora você me dá licença?
Ao sair da manifestação, me lembrei de Machado de Assis, e de suas
“Memórias póstumas de Brás Cubas”. Logo no início do livro, na sua
dedicatória ao leitor, o defunto autor fala que escreveu suas memórias
com “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”. Talvez, nessa frase,
Machado tenha identificado o caráter do povo brasileiro, de uma maneira
que quase ninguém mais percebeu. Na manifestação, essa nossa “galhofa”
aparecia em cada um dos momentos festivos, cada uma das piadas, das
músicas, das gracinhas. Já a melancolia foi o que nos levou às ruas.
Após uma década acumulando essa bile amarga, a gota de uma moeda
imaginária de 20 centavos, transbordou o pote. Agora, a melancolia se
travestiu de manifestações bem menos passivas. Uma melancolia que às
vezes pode ser até raivosa.
Angélica Barros - Historiadora
Infelizmente não pude estar presente na passeata de ontem, mas
acompanhei pelos meios de divulgação a movimentação que ocupava toda a
avenida Rio Branco no Centro do Rio. A imagem era linda de se ver! Um
mundaréu de gente com luzes e faixa, iluminando toda a avenida com seus
gritos e desejos, que sabemos, não são apenas por um aumento de
passagem. Os gritos, e me incluo aqui, são um basta. Basta de tanta
corrupção, de receber garganta abaixo tudo que estes governos impõem.
Chega de tanta violência, de tanto desejar mudanças e não se obter
respostas. Os gritos vinham de um sentimento profundo de insatisfação do
povo brasileiro contra um Estado que há muito deixou de responder às
necessidades mais primárias dessa sociedade. E foi lindo ver tanta gente
renascendo, outros iniciando suas lutas e muitos aderindo a essa voz
uníssona. Me senti representada pelos amigos que participaram. Tanto
como professora de História quanto como cidadã, é maravilhoso perceber
que os adolescentes estão querendo participar, querem se informar, estar
presente. Recebo mensagens dos meus alunos perguntando sobre o
movimento, pedindo para saber mais, vendo nessa luta de hoje um espelho
das buscas do passado. Um deles me disse que essa manifestação será a
queda da nossa Bastilha. Salvando dos exageros, essa frase ficou
marcada. Tenho certeza que muitos deles engrossaram as fileiras no
pedido de ontem. Basta! Basta! Basta!
Gabriela Nogueira Cunha -
Estudante de jornalismo
Fomos 100 mil da Candelária até a Cinelândia, hoje, e não existem
palavras pra descrever o que eu senti por fazer parte daquilo. Meio
atrapalhada em alguns momentos, não sabia se filmava, se cantava junto
ou se parava pra admirar o que estava acontecendo a minha volta.
Estávamos entrando para a história, com toda certeza. Cem mil, na Rio
Branco, dá pra imaginar? Acho que não, só dá pra sentir.
Eu estive no meio do caos, também. Ouvi as bombas cada vez mais
próximas, nos arredores do Paço Imperial, e as pessoas correndo
assustadas. Senti a garganta fechar por causa do gás e, em meio ao caos,
manifestantes pedindo paz e me perguntando se eu tinha vinagre e se
queria um pouco no meu cachecol. Vi fogo. Vi fumaça. Ouvi barulhos que
não soube identificar. Não sei quem começou o que. Me preocupei pelos
amigos que não via desde a passeata e pelo meu irmão que correu pro lado
oposto do meu no primeiro "boom". As notícias mais claras vinham por
Whatsapp, de quem acompanhava de casa, pela internet. "Não vai pra
Alerj!" E eu pensando "Mas já tô aqui, fudeu".
O que eu posso afirmar de tudo que vi é que hoje foi único e foi lindo.
E foi pacífico, enquanto deu. O que aconteceu na Alerj não pode
deslegitimar os 100 mil da Rio Branco. A causa é justa e estamos nas
ruas por direito e por direitos.
Obrigada aos que ficaram comigo até o final, obrigada a todos que
tentaram me encontrar no meio da passeata, obrigada pelos telefonemas
preocupados e pelos "breaking news" via Whatsapp avisando que "o
congresso foi tomado!".
Nataraj Trinta
Rio de vergonha, Rio de agonia, Rio de revolta, Rio de muitos que lutam
todo o dia e que sofrem as violências de um Estado que não dialoga, não
se pronuncia, mas bate, mata e prende sem piedade e de preferência na
calada da noite e sem a cobertura da grande mídia.
Ora, leitor, você não viu hoje na chamada do jornal do estado vizinho o que poderia ser uma piada, se não fosse realidade:
“Cabral e Beltrame não comentam protestos e dizem que questão é com a PM“? Qual leitora bem informada não sabe que vândalos, usando símbolos do Estado destroem a cidade e mais de
7 mil famílias ficarão sem casa por causa deles!?
Quem não tem acompanhado as ações de terroristas fardados, também
conhecidos como integrantes do Batalhão de Choque, reprimindo de modo
truculento a Aldeia Maracanã, avançando em populares dentro e fora de
favelas e agindo brutalmente contra manifestações pacíficas com balas de
borracha, spray de pimenta, gás lacrimogênio e prisões arbitrárias?
As passeatas que iniciaram com a luta pela redução de centavos em Porto
Alegre ganhou no Brasil o aspecto de reivindicação por direito à
mobilidade e principalmente direito à democracia participativa.
Como historiadora, pensar a passeata do dia 17 de junho como um ato
isolado é não encarar uma sucessão fatos que revelam abusos e
arbitrariedades do poder estatal e a crescente mobilização popular (que
não começou nem ontem, muito menos esse ano). Não podemos empobrecer o
caráter de manifestações que devem, sim, ser motivos de orgulho
exatamente por serem compostas por massas (críticas).
Como cidadã, fico esperançosa que essa série de manifestações não
terminem em megaeventos tipo passeatas. Mas seja o início do
aprofundamento de debates, criações de coletivos e mais transparência e
participação da população nas decisões políticas.
Não faltou emoção ontem na passeata dos mais de 100 mil manifestantes
no Rio de Janeiro. Olhos mareados de orgulho e vontades de mudanças se
misturavam a slogans bem humorados e ditos a plenos pulmões. Papéis
picados soltados por aqueles que participavam das janelas, luzes
piscando, pessoas curiosas vendo da janela o que podiam... Todos se
sentindo parte de um dia histórico. Parte de um movimento popular.
Mas para se sentir participando, é imprescindível se colocar no lugar
de povo e isso a maioria da classe média faz com muita parcimônia. O bom
mesmo é fazer
a fina enquanto todos agem pacificamente e
correr para as casas para acompanhar as notícias. Ou estar lá, mas não
se deixar levar tanto pelas emoções ou revoltas e entender tudo como uma
festa cívica com todo o tipo de gente.
Não faltaram algumas bandeiras dos partidos políticos (sempre os mesmos
partidos políticos de esquerdas que apoiam lutas e reivindicações
populares) e muitas críticas à possibilidade de cooptação política
partidária de um evento construído por um emaranhado de vozes que por
vezes se uniam e outras soavam dissonantes.
Toda sorte de pessoas em um evento que foi uma ode à democracia e ao
direito de expressar descontentamentos com o Estado em seus diversos
níveis de autoritarismo e pouco diálogo.
Criticas à presidenta Dilma? Sim, mas não eram a maioria. A maioria
bradava contra os omissos chefes da casa executiva em nosso Estado e
maravilhoso Município ou por questões amplas, porém concretas: contra os
investimentos em estádios e descaso na educação e saúde, contra
políticas como o estatuto do nascituro, pelo direito de ir e vir com
dignidade, contra especulação imobiliária, pelo direito a voz e a
respeitabilidade em protestos.
Para onde nós iremos? Bom, para termos realmente o “nós”, o processo está só no início. As redes sociais
startaram
a reunião dessa tal massa crítica, mas ainda precisamos aprofundar os
encontros, exercitar o diálogo e a vontade de ouvir as vozes de “nós” na
massa e da massa em nós. Próximo encontro:
Hackday transporte público Rio.
Nathália Fernandes - Estudante de História
A História quem escreve somos nós.
Tenho muito orgulho em dizer que o último dia 17 de Junho do ano de
2013, foi um dia histórico. E por mais clichê que isso possa parecer -
considerando do lugar de onde falo e que esse lugar me dá o falso aval
de dizer o que é ou não História -, afirmo isso sem medo de errar ou de
cometer o maior dos exageros. Acredito que a minha geração - tão
descrente do sistema de Governo que temos no Brasil hoje e tão cansada
dessa gente que não nos representa – não tinha sentido, de fato, a sua
força política e o seu poder diante dos acontecimentos da História. E
para mim, o dia 17 de Junho de 2013 foi um dia histórico, pois a minha
geração sentiu isso pela primeira vez.
Infelizmente, assisti toda a mobilização passivamente. Estava em casa,
doente, assistindo tudo pela televisão. Assisti a toda movimentação sem
acreditar muito no que estava acontecendo. Primeiro, pela própria
mobilização em si. A história oficial não destaca a sociedade brasileira
como uma sociedade que luta pelos seus direitos. Segundo, pela
organização do movimento que envolveu algumas das mais importantes
capitais brasileiras. No caso do Rio de Janeiro, o que me chama mais
atenção é a multidão que se reuniu no Centro da Cidade. A Banda
“Paralamas do Sucesso” foi um tanto quanto profética ao dizer “Se essa
Palhaçada fosse na Cinelândia / Ia juntar muita gente pra pegar na saída
/ Pra fazer Justiça uma vez na vida”.
Ver a população colocando o seu “bloco na rua”, sem nem mesmo ser
Carnaval, durante um evento esportivo internacional relacionado ao
esporte símbolo da cultura e identidade nacionais – o Futebol -, me fez
pensar como a intelectualidade está errada sobre os brasileiros. E como
nós, enquanto sociedade, estamos enganados sobre nós mesmos. Quebramos
com a visão torpe que temos sobre nós mesmos e, de repente, estamos
começando a avançar na reflexão – e ação – diante de conceitos como
Cidadania, Democracia, Sociedade, Política.
Não, Futebol não é o ópio do povo brasileiro. Não, não nos aglomeramos
na Avenida Rio Branco para assistir, apenas, ao Desfile do Monobloco.
Não, não somos burros, desorganizados ou desleixados. Fomos capazes de
organizar um movimento de grandes proporções em um país com proporções
imensas, onde todos os envolvidos falavam a mesma voz. A História é
feita pelos seus agentes e é feita de transformações. Que esse evento
seja um importante episódio para que tenhamos consciência de que nós
construímos o nosso presente e futuro, ou seja, a nossa História. Por
que a História não é feita só do que passou. E que também possamos ter a
consciência de que a História de um coletivo é construída, escrita
coletivamente. E que esse seja o primeiro passo para grandes
transformações na sociedade brasileira.