Blog Do Bem

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Garota de 17 anos cria empresa de US$ 250 milhões


O investimento inicial de Isabella Weems foi de US$ 350 (Foto: Divulgação)

Bella Weems fundou a Origami Owl para comprar um carro usado e hoje conta com rede de revendedores nos EUA

 

Todos os negócios surgem por uma motivação. A da americana Isabella Weems, conhecida como Bella, era comprar um carro usado. Com a Origami Owl, plataforma online de joias, ela conseguiu bem mais que isso: em 2012, a empresa ganhou US$ 25 milhões. Neste ano, a expectativa é de um faturamento de US$ 250 milhões.
A Origami Owl foi criada em 2010. Na época, Bella tinha 14 anos e decidiu que um carro seria um presente apropriado para seu aniversário de 16 anos - nos Estados Unidos, essa idade tem uma aura parecida com a das debutantes brasileiras. Só que, em vez de pedir o carro de presente, ela decidiu que juntaria dinheiro. Seus pais sugeriram que ela abrisse sua própria empresa.

 

O investimento inicial na Origami Owl foi de US$ 350, dinheiro ganho por Bella em trabalhos como babá. Ela começou a fazer joias e contou com a ajuda de família e amigos para vendê-las para conhecidos. Em 2010, durante a Black Friday, ela conseguiu abrir um quiosque no shopping de sua cidade natal, Chandler, no Arizona. "A partir daí, o produto começou a vender sozinho", disse ela à revista Forbes.
No ano seguinte, já na internet, a Origami Owl começou a trabalhar com consultores, que compram as joias e as revendem. A principal forma de venda das joias é em "bares de joias", nome dado pela empresa a festinhas na casa dos revendedores.
Por enquanto, Bella não está administrando a empresa sozinha. Ela conta com a ajuda de sua mãe, Chrissy, alguns parentes e executivos com passagem por grandes empresas do setor de beleza. Por outro lado, Bella já realizou aquele sonho de três anos atrás, já que Bella é a feliz proprietário de um carro da Jeep novinho.

domingo, 1 de dezembro de 2013

O protesto de 17 de junho de 2013

Depoimentos dos historiadores e jornalistas sobre o que eles viram e o que eles registraram nesse dia que vai ser lembrado, estudado, pesquisado no futuro.

 Revista de História

Multidão sobe as escadarias do Theatro Municipal / Foto: Bernardo Santos






Multidão sobe as escadarias do Theatro Municipal / Foto: Bernardo Santos

Dezessete de junho de 2013. Uma data que provavelmente vai ficar para a História. Foi quando cerca de 100 mil pessoas se reuniram, segundo estimativas, e apenas no Rio, em um protesto multifacetado, que se iniciou há poucas semanas contra o aumento das passagens de ônibus municipais, mas que agora parece juntar outras reivindicações. A redação da Revista de História fica a uma quadra da Avenida Rio Branco, onde ocorreu a manifestação no Rio e muitos dos nossos historiadores e jornalistas participaram do movimento. Vamos publicar, ao longo do dia, os seus depoimentos sobre o que eles viram, o que eles registraram nesse dia que vai ser lembrado, estudado, pesquisado no futuro.

Carolina Ferro - Historiadora
A concentração na Candelária estava marcada para as 17 horas, mas meus amigos e eu saímos do trabalho por volta de 17:30h. Caminhamos pela rua Uruguaiana, paralela a Rio Branco por onde passaria a manifestação. No caminho, vimos inúmeros policiais municipais ajudando pessoas a encontrar o protesto e vários manifestantes preocupados em comprar máscaras para se proteger do gás lacrimogêneo. Foi bonito ver as pessoas caminhando de branco, mas foi feio vê-las carregando lenços no rosto encharcados de vinagre. Ao chegar à Avenida Presidente Vargas, nos juntamos à multidão que portava faixas contra o aumento da passagem, mas também a favor de outras melhorias para a população, principalmente na saúde e na educação. Era visível que o movimento não era por 20 centavos, mas por 20 X 20 motivos de insatisfação de uma população que vem sendo negligenciada por muitos anos pelo poder público. Ao chegar à famosa Avenida Rio Branco, muitos rostos se encheram de lágrimas. Foi belo ver que além dos muitos jovens que gritavam com todas as forças, havia idosos, cadeirantes, homens e mulheres de roupas sociais e artistas. De fato é um movimento do povo na maior amplitude da palavra. Do alto dos arranha-céus do centro financeiro, cultural e comercial da cidade, trabalhadores acompanhavam a passeata piscando suas luzes, abanando panos brancos e jogando papel picado. Voltamos mais cedo e, como bons historiadores, fomos ver as notícias. Vimos fotos de mais de 100 mil pessoas caminhando por justiça, mas também algumas com dezenas de indivíduos que se exaltaram demais em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A tristeza tomou conta da alegria. “Não queremos violência”, era o que dizia um dos gritos dos manifestantes. E com certeza não é o que quer a maioria. Queremos paz, mas queremos paz com voz, sem medo.

Felipe Rodrigues - Estudante de História
Ontem, 17/06/2013, foi um dia que ficou na história do Brasil. A “Revolta do Vinagre”, como está sendo chamada, levou mais de 100 mil pessoas as ruas, segundo estimativa da Coppe/UFRJ (a PM estima em 40 mil). Para mim, concluinte do curso de História da Uerj/FFp, a passeata significou uma aula na prática de como exercer a cidadania, exigindo seus direitos. Discutimos tanto nas salas fechadas das Universidades questões como “Democracia”, “Direitos”, “Estado”, “Representação Política”; conceitos tão fechados que parecem distantes do nosso cotidiano. Ontem essa distância ruiu junto com o sentimento de impotência que assolava o povo brasileiro há anos! Foi lindo ver pessoas tão diferentes em sua individualidade, mas com um sentimento único, conectadas em um só coro: O RIO ACORDOU! E não só o Rio de Janeiro, mas todo o Brasil e brasileiros, já que em várias partes do mundo houve manifestação. Pude presenciar e fazer parte de uma das maiores manifestações espontâneas que a sociedade brasileira já presenciou. Foi uma mistura de satisfação, revolta, orgulho e alegria o que passei naquelas horas entre a Av. Presidente Vargas e a Rio Branco. O que posso afirmar é que o meu sentimento e tudo aquilo que presenciei na passeata não sairá da minha mente e do meu coração. Minha vida está dividida entre o antes e o depois do dia 17/06/2013.

Janine Justen - Estudante de jornalismo
Nada como ser mais um na multidão. Sim, de fato, uma multidão. Mais de 100 mil pessoas que gritavam por seus direitos e exigiam respostas de um governo falacioso, de interesses para lá de questionáveis. Na Avenida Rio Branco, indignação foi a palavra de ordem nesta segunda-feira. Estamos fazendo, escrevendo História. Tenho orgulho de fazer parte disso, como cidadã e jornalista. Muda, Brasil! Rumo a uma real democracia.

Joice Santos - Historiadora
Ir à manifestação ontem foi praticamente uma jornada. Desde cedo um clima de pavor e animação tomavam conta de mim. De pavor, pois desde cedo a mídia noticiava o número de soldados, cavalaria, paraquedistas e cachorros dispensados para o evento, além de um receio de um confronto com a polícia. Apesar desse sentimento, segui o dia marcando lugares e horários com alguns amigos que também pretendiam ir à manifestação.
Uma hora antes do evento, surgiram, nas redes sociais, notícias de que a polícia estava revistando os manifestantes que chegavam às estações de metrô e/ou recolhendo celulares – notícias que não foram ou não podem ser confirmadas. O que aumentou ainda mais o clima de tensão. No entanto, o desejo de fazer parte da manifestação, lutar pelos nossos direitos tornou-se maior que qualquer temor e fez com quem não pensava em ir à manifestação fosse.
O grupo, do qual fazia parte, decidiu ir pela Rua Uruguaiana já que a manifestação havia começado na Av. Rio Branco, havia muitos guardas municipais e policiais ao longo do trajeto mas não foi um impedimento para que nós e outras pessoas seguíssemos até a Avenida Presidente Vargas.
Lá chegando, encontramos um enorme grupo de manifestantes, a maioria de jovens, cantando, gritando palavras de ordem, articulando formas de dispersão e encontro caso houvesse algum embate, levantando seus cartazes com diversas demandas. Não tinha como não se emocionar com os que acreditam que é possível lutar por direitos saindo às ruas e, com isso, provocar mudanças. E eu ainda nem havia chegado na av. Rio Branco.
Quando enfim conseguimos entrar na avenida principal, foi impactante ver aquela multidão cantando, pessoas no prédio piscando as luzes à medida que passávamos e gritávamos: “Quem apoia piscaa luz, quem apoia piscaluz”. Mais impactante foi percorrer praticamente toda a Rio Branco sem ter visto uma discussão e nem um princípio de briga.
Num dado momento, escutamos um carro de som, se não me engano da UNE, e todo mundo abriu passagem quando o homem que estava no caminhou falou ao microfone: “Já somos 50 mil, galera!”. Os manifestantes foram à loucura. Foi emocionante! Não só por estar na passeata, mas por terem 50 mil pessoas acreditando na mobilização.
Não fiquei até o final da manifestação. Só quando estava indo pra casa soube que a manifestação havia levado 100 mil pessoas às ruas e que um grupo bem menor havia iniciado atos de vandalismo na Alerj e no Paço Imperial. Discordo de atos que depredam os espaços públicos, seja dos eventos que aconteceram ontem quanto os que acontecem diariamente como o sucateamento do ensino e da saúde.
Ao fim da manifestação, fiquei com a sensação de que é possível uma mobilização da população para lutar por suas reivindicações. Com os eventos de ontem, também fiquei com uma questão: onde queremos chegar? Ou, qual é ou quais são nossos principais objetivos?
Mais cedo um amigo postou um trecho de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll,que talvez nos ajude a pensar sobre isso:
“Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.”

Agora que todos foram mobilizados, acho que é chegada a hora de definir exatamente pra onde queremos ir, só assim podemos estabelecer o melhor percurso.

Roberta Souza - Historiadora
Dessa vez é diferente. Os cidadãos não "assistiram alheios a tudo". Não é fato que estamos saindo do trabalho, dando menos atenção aos nossos filhos, por 20 centavos. Estamos lutando pra fazer prevalecer o que está estabelecido na Constituição. Que a manifestação das ruas seja refletida nas urnas.

Ronaldo Pelli – Jornalista
Foi uma festa. E como toda festa, há os com-noção e os sem-noção, sendo “noção” aqui entendida em vários sentidos. Seja o de ter alguma ideia do que estava acontecendo, seja o de perder o respeito pelos outros.  E como toda festa também, havia animação. A Orquestra Voadora estava presente. Havia gritos de carnaval. Gritos do futebol. Será que precisamos mesmo aprender a protestar? Por que todo protesto deve ter raiva mesmo? Havia muito humor também nos cartazes: “R$ 2,95? Só com open bar”, dizia um, em referência o novo preço da passagem dos ônibus do Rio. “Ei polícia / vinagre é uma delícia”, gritavam outros.
“O gigante acordou” era um dos “slogans” mais pronunciados. “Slogans”, não gritos de guerra, não gritos de ordem. “Fora... (acrescente o nome de um político no cargo executivo)” era outro. Nenhuma esfera do governo foi perdoada.
Fiquei parado durante um tempo na Avenida Rio Branco, perto da Avenida Sete de Setembro, a rua que leva à redação da Revista de História. Algo como uma hora. Parado, vendo o movimento de uma multidão que descia a antiga Avenida Central em direção à Cinelândia. Eram vários blocos compactos de manifestantes. Os primeiros, os que iam à frente de todos, talvez não fossem quem mais representava a maioria. Porque empunhavam flâmulas partidárias, que foram rechaçadas pelo restante do grupo aos gritos de “abaixa a bandeira / abaixa a bandeira”. Os protestos parecem deixar uma informação clara: a política partidária, como nós a conhecemos agora, “não me representa”, para usar uma expressão atual.
Em outro “bloco”, um minicarro de som. A moça no microfone, provavelmente uma paulista, pede para todo mundo abaixar, e depois, todo mundo se levanta numa catarse coletiva. Era uma festa, uma festa com gente não convidada.
Ao meu lado, estavam três catadores de papel, atividade que é forte na região. Era a hora de eles trabalharem. Estavam lá, assistindo a tudo, ao meu lado, entre o entediado e o bocejante. Em certo momento, passa um sujeito com um cartaz cheio de informações e para em frente a eles, como que quisesse mostrar algo. Só sai quando um dos catadores acena com a cabeça, como se dissesse, já entendi, agora você me dá licença?
Ao sair da manifestação, me lembrei de Machado de Assis, e de suas “Memórias póstumas de Brás Cubas”. Logo no início do livro, na sua dedicatória ao leitor, o defunto autor fala que escreveu suas memórias com “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”. Talvez, nessa frase, Machado tenha identificado o caráter do povo brasileiro, de uma maneira que quase ninguém mais percebeu. Na manifestação, essa nossa “galhofa” aparecia em cada um dos momentos festivos, cada uma das piadas, das músicas, das gracinhas. Já a melancolia foi o que nos levou às ruas. Após uma década acumulando essa bile amarga, a gota de uma moeda imaginária de 20 centavos, transbordou o pote. Agora, a melancolia se travestiu de manifestações bem menos passivas. Uma melancolia que às vezes pode ser até raivosa.

Angélica Barros - Historiadora
Infelizmente não pude estar presente na passeata de ontem, mas acompanhei pelos meios de divulgação a movimentação que ocupava toda a avenida Rio Branco no Centro do Rio. A imagem era linda de se ver! Um mundaréu de gente com luzes e faixa, iluminando toda a avenida com seus gritos e desejos, que sabemos, não são apenas por um aumento de passagem. Os gritos, e me incluo aqui, são um basta. Basta de tanta corrupção, de receber garganta abaixo tudo que estes governos impõem. Chega de tanta violência, de tanto desejar mudanças e não se obter respostas. Os gritos vinham de um sentimento profundo de insatisfação do povo brasileiro contra um Estado que há muito deixou de responder às necessidades mais primárias dessa sociedade. E foi lindo ver tanta gente renascendo, outros iniciando suas lutas e muitos aderindo a essa voz uníssona. Me senti representada pelos amigos que participaram. Tanto como professora de História quanto como cidadã, é maravilhoso perceber que os adolescentes estão querendo participar, querem se informar, estar presente. Recebo mensagens dos meus alunos perguntando sobre o movimento, pedindo para saber mais, vendo nessa luta de hoje um espelho das buscas do passado. Um deles me disse que essa manifestação será a queda da nossa Bastilha. Salvando dos exageros, essa frase ficou marcada. Tenho certeza que muitos deles engrossaram as fileiras no pedido de ontem. Basta! Basta! Basta!

Gabriela Nogueira Cunha - Estudante de jornalismo
Fomos 100 mil da Candelária até a Cinelândia, hoje, e não existem palavras pra descrever o que eu senti por fazer parte daquilo. Meio atrapalhada em alguns momentos, não sabia se filmava, se cantava junto ou se parava pra admirar o que estava acontecendo a minha volta. Estávamos entrando para a história, com toda certeza. Cem mil, na Rio Branco, dá pra imaginar? Acho que não, só dá pra sentir.
Eu estive no meio do caos, também. Ouvi as bombas cada vez mais próximas, nos arredores do Paço Imperial, e as pessoas correndo assustadas. Senti a garganta fechar por causa do gás e, em meio ao caos, manifestantes pedindo paz e me perguntando se eu tinha vinagre e se queria um pouco no meu cachecol. Vi fogo. Vi fumaça. Ouvi barulhos que não soube identificar. Não sei quem começou o que. Me preocupei pelos amigos que não via desde a passeata e pelo meu irmão que correu pro lado oposto do meu no primeiro "boom". As notícias mais claras vinham por Whatsapp, de quem acompanhava de casa, pela internet. "Não vai pra Alerj!" E eu pensando "Mas já tô aqui, fudeu".
O que eu posso afirmar de tudo que vi é que hoje foi único e foi lindo. E foi pacífico, enquanto deu. O que aconteceu na Alerj não pode deslegitimar os 100 mil da Rio Branco. A causa é justa e estamos nas ruas por direito e por direitos.
Obrigada aos que ficaram comigo até o final, obrigada a todos que tentaram me encontrar no meio da passeata, obrigada pelos telefonemas preocupados e pelos "breaking news" via Whatsapp avisando que "o congresso foi tomado!".

Nataraj Trinta
Rio de vergonha, Rio de agonia, Rio de revolta, Rio de muitos que lutam todo o dia e que sofrem as violências de um Estado que não dialoga, não se pronuncia, mas bate, mata e prende sem piedade e de preferência na calada da noite e sem a cobertura da grande mídia.
Ora, leitor, você não viu hoje na chamada do jornal do estado vizinho o que poderia ser uma piada, se não fosse realidade: “Cabral e Beltrame não comentam protestos e dizem que questão é com a PM“? Qual leitora bem informada não sabe que vândalos, usando símbolos do Estado destroem a cidade e mais de 7 mil famílias ficarão sem casa por causa deles!?
Quem não tem acompanhado as ações de terroristas fardados, também conhecidos como integrantes do Batalhão de Choque, reprimindo de modo truculento a Aldeia Maracanã, avançando em populares dentro e fora de favelas e agindo brutalmente contra manifestações pacíficas com balas de borracha, spray de pimenta, gás lacrimogênio e prisões arbitrárias?
As passeatas que iniciaram com a luta pela redução de centavos em Porto Alegre ganhou no Brasil o aspecto de reivindicação por direito à mobilidade e principalmente direito à democracia participativa.
Como historiadora, pensar a passeata do dia 17 de junho como um ato isolado é não encarar uma sucessão fatos que revelam abusos e arbitrariedades do poder estatal e a crescente mobilização popular (que não começou nem ontem, muito menos esse ano).  Não podemos empobrecer o caráter de manifestações que devem, sim, ser motivos de orgulho exatamente por serem compostas por massas (críticas).
Como cidadã, fico esperançosa que essa série de manifestações não terminem em megaeventos tipo passeatas. Mas seja o início do aprofundamento de debates, criações de coletivos e mais transparência e participação da população nas decisões políticas.
Não faltou emoção ontem na passeata dos mais de 100 mil manifestantes no Rio de Janeiro. Olhos mareados de orgulho e vontades de mudanças se misturavam a slogans bem humorados e ditos a plenos pulmões. Papéis picados soltados por aqueles que participavam das janelas, luzes piscando, pessoas curiosas vendo da janela o que podiam... Todos se sentindo parte de um dia histórico. Parte de um movimento popular.
Mas para se sentir participando, é imprescindível se colocar no lugar de povo e isso a maioria da classe média faz com muita parcimônia. O bom mesmo é fazer a fina enquanto todos agem pacificamente e correr para as casas para acompanhar as notícias. Ou estar lá, mas não se deixar levar tanto pelas emoções ou revoltas e entender tudo como uma festa cívica com todo o tipo de gente.
Não faltaram algumas bandeiras dos partidos políticos (sempre os mesmos partidos políticos de esquerdas que apoiam lutas e reivindicações populares) e muitas críticas à possibilidade de cooptação política partidária de um evento construído por um emaranhado de vozes que por vezes se uniam e outras soavam dissonantes.
Toda sorte de pessoas em um evento que foi uma ode à democracia e ao direito de expressar descontentamentos com o Estado em seus diversos níveis de autoritarismo e pouco diálogo.
Criticas à presidenta Dilma? Sim, mas não eram a maioria. A maioria bradava contra os omissos chefes da casa executiva em nosso Estado e maravilhoso Município ou por questões amplas, porém concretas: contra os investimentos em estádios e descaso na educação e saúde, contra políticas como o estatuto do nascituro, pelo direito de ir e vir com dignidade, contra especulação imobiliária, pelo direito a voz e a respeitabilidade em protestos.
Para onde nós iremos? Bom, para termos realmente o “nós”, o processo está só no início. As redes sociais startaram a reunião dessa tal massa crítica, mas ainda precisamos aprofundar os encontros, exercitar o diálogo e a vontade de ouvir as vozes de “nós” na massa e da massa em nós. Próximo encontro: Hackday transporte público Rio.

Nathália Fernandes - Estudante de História
A História quem escreve somos nós.
Tenho muito orgulho em dizer que o último dia 17 de Junho do ano de 2013, foi um dia histórico. E por mais clichê que isso possa parecer - considerando do lugar de onde falo e que esse lugar me dá o falso aval de dizer o que é ou não História -, afirmo isso sem medo de errar ou de cometer o maior dos exageros. Acredito que a minha geração - tão descrente do sistema de Governo que temos no Brasil hoje e tão cansada dessa gente que não nos representa – não tinha sentido, de fato, a sua força política e o seu poder diante dos acontecimentos da História. E para mim, o dia 17 de Junho de 2013 foi um dia histórico, pois a minha geração sentiu isso pela primeira vez.
Infelizmente, assisti toda a mobilização passivamente. Estava em casa, doente, assistindo tudo pela televisão. Assisti a toda movimentação sem acreditar muito no que estava acontecendo. Primeiro, pela própria mobilização em si. A história oficial não destaca a sociedade brasileira como uma sociedade que luta pelos seus direitos. Segundo, pela organização do movimento que envolveu algumas das mais importantes capitais brasileiras. No caso do Rio de Janeiro, o que me chama mais atenção é a multidão que se reuniu no Centro da Cidade. A Banda “Paralamas do Sucesso” foi um tanto quanto profética ao dizer “Se essa Palhaçada fosse na Cinelândia / Ia juntar muita gente pra pegar na saída / Pra fazer Justiça uma vez na vida”.
Ver a população colocando o seu “bloco na rua”, sem nem mesmo ser Carnaval, durante um evento esportivo internacional relacionado ao esporte símbolo da cultura e identidade nacionais – o Futebol -, me fez pensar como a intelectualidade está errada sobre os brasileiros. E como nós, enquanto sociedade, estamos enganados sobre nós mesmos. Quebramos com a visão torpe que temos sobre nós mesmos e, de repente, estamos começando a avançar na reflexão – e ação – diante de conceitos como Cidadania, Democracia, Sociedade, Política.
Não, Futebol não é o ópio do povo brasileiro. Não, não nos aglomeramos na Avenida Rio Branco para assistir, apenas, ao Desfile do Monobloco. Não, não somos burros, desorganizados ou desleixados. Fomos capazes de organizar um movimento de grandes proporções em um país com proporções imensas, onde todos os envolvidos falavam a mesma voz. A História é feita pelos seus agentes e é feita de transformações. Que esse evento seja um importante episódio para que tenhamos consciência de que nós construímos o nosso presente e futuro, ou seja, a nossa História. Por que a História não é feita só do que passou. E que também possamos ter a consciência de que a História de um coletivo é construída, escrita coletivamente. E que esse seja o primeiro passo para grandes transformações na sociedade brasileira.







 


Qualidade da Educação Brasileira

Este trabalho foi produzido por solicitação da professora Caroline Nagel da disciplina Laboratório de Pesquisa III da Universidade Católica de Brasília

A questão da qualidade da educação não deixa de ser preocupação das escolas, e da sociedade em geral, tanto no Brasil como no mundo inteiro. Se os governos também não se preocuparem com a qualidade de vida dos profissionais da educação, certamente os programas educacionais acabarão em crise, abarcando o caminho do desenvolvimento. 
 

Apenas 25% dos brasileiros são plenamente alfabetizados
     O Brasil é a sétima maior economia do planeta. Mas, no quesito educação, ocupa apenas o 53º lugar na prova que avalia estudantes de 65 países. Só um em cada quatro brasileiros de 15 a 64 anos pode ser considerado plenamente alfabetizado. Os números do Ibope mostram que, apesar de ter caído entre 2001 e 2009, a taxa de analfabetismo funcional ainda é de 28%. Uma parcela da população que mesmo sabendo ler e escrever, não consegue interpretar textos ou usar a matemática para resolver problemas do cotidiano.

Apenas 25% dos alunos que terminam o ensino fundamental aprendem o que deviam na língua portuguesa

    No Brasil, mais de 700 mil crianças de 6 a 14 anos ainda estão fora da escola. Apesar da ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos, nem todos os que frequentam a sala de aula aprendem. No 5° ano, muitos ainda não conseguem ler. O Pará é o estado em que alunos do 5° ano tiveram pior desempenho no IDEB , o indicador de qualidade do Ministério da Educação. O número combina o resultado das provas oficiais com o índice de aprovação. Na escala de 0 a 10, a média dos estudantes brasileiros do 5° ano foi 4,6 em 2009. O Pará ficou com 3,6. A meta do país é chegar a 6 em 2022. O resultado é que no Brasil só 34% dos alunos que terminam o 5º ano sabem português como deveriam. No fim do ensino fundamental, o aproveitamento é ainda pior: 26%. Com nota 2,9, Alagoas ocupa o último lugar no ranking,no fim do ensino fundamental,bem abaixo da média brasileira que é 4,0.

Ensino médio é o que menos evoluiu ao longo dos anos

      O ensino médio, no Brasil, tem os maiores índices de abandono na comparação com outras etapas da educação.De cada dez alunos que entram no primeiro ano do ensino fundamental, só metade conclui o ensino médio até 19 anos, essa é uma estatística desanimadora no Brasil: a evasão.O Piauí é o estado com o pior desempenho no ensino médio. Nota 3 no IDEB. Até 2016, ele será obrigatório para todos os adolescentes de até 17 anos. Isso significa que, além de melhorar a qualidade, as escolas terão de se preparar para receber mais gente.
 

Exploração Sexual de Adolecentes Indígenas


Rede de exploração sexual de São Gabriel da Cachoeira (AM) passa a ser investigada em âmbito federal. Vulnerabilidade de meninas indígenas preocupa
    Por Daniel Santini, da Repórter Brasil
O caso de exploração de crianças e adolescentes indígenas em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, passou à esfera federal. Além da investigação aberta há cerca de um mês a pedido do Ministério Público Federal, agora a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República e os deputados federais da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Tráfico de Pessoas  passaram a acompanhar o caso. Na semana passada, a ministra Maria do Rosário visitou o centro de acolhida Kunhantãi Uka suri (Casa da Menina Feliz), onde vítimas de abusos receberam apoio de freiras salesianas. Os deputados, por sua vez, não só aprovaram requerimento para uma diligência na cidade, como também a realização de uma audiência pública para debater o problema.
As primeiras denúncias da exploração foram feitas em 2008, mas nem o Ministério Público Estadual, nem Polícia Civil, conseguiram desmantelar a rede de pedofilia local. As violências cometidas ganharam repercussão nacional neste mês, após notícias de que a virgindade de uma menina havia sido vendida por R$ 20.

Meninas ameaçadas temem represálias. Imagens: Repórter Brasil

As autoridades ouviram depoimentos de 12 garotas e listaram nove suspeitos. Quem acompanha a questão na região alerta, no entanto, que a rede é bem maior. “Tem muito mais do que os 12 casos. Há muitas meninas amedrontadas por essas pessoas, meninas que se calam diante de ameaças”, diz o bispo Edson Taschetto Damian, que afirma que freiras da congregação que recebeu as vítimas vêm sofrendo ameaças e perseguição.
“Elas estão em contato com essas meninas mais pobres e exploradas. Acabam ouvindo e descobrindo os casos, que não são poucos. Os órgãos judiciários locais estão pouco presentes. Embora tenha Tribunal de Justiça e Procuradoria do Estado [em São Gabriel da Cachoeira], os responsáveis vivem em Manaus e permanecem poucos dias na cidade”, completa. De acordo com o religioso, a participação do procurador Júlio José Araújo Junior, do Ministério Público Federal, foi fundamental para que a investigação passasse ao âmbito federal.

Objeto sexual
“Por que existe essa exploração? Porque para alguns brancos o índio é objeto, não conta, não tem dignidade ou valor. Eles fazem o que bem entendem”, diz o bispo Edson. O crescimento populacional acelerado no município é apontado como um dos fatores que agravaram a vulnerabilidade das meninas indígenas. O número de moradores do município encravado na floresta, na fronteira do Brasil com Venezuela e Colômbia, quase dobrou em duas décadas. De 23.140 pessoas em 1991, passou para 37.896 em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mais de 90% dos moradores são indígenas.

Em 2008, a eleição do prefeito Pedro Garcia (PT) e seu vice André Baniwa (PV), primeiros índios a assumirem o poder municipal, acelerou a urbanização. Muitas famílias trocaram aldeias pela cidade, esperançosas em relação a acesso a mais políticas e serviços públicos. A desigualdade social, no entanto, não mudou. Segundo os dados mais recentes do IBGE, enquanto a renda média mensal dos indígenas é de R$ 601, a da população de cor branca é de R$ 2.387.
A relação entre urbanização acelerada em municípios indígenas e exploração sexual infantil não é exclusividade do município no norte do Amazonas. Em julho do ano passado, em encontro do Grupo de Estudos sobre Infância Indígena e Trabalho Infantil da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (Conaeti), integrantes manifestaram a preocupação em relação a este tema. Dernival dos Santos, representante dos índios Kiriris, afirmou na ocasião que a saída de jovens das aldeias para as cidades trazia riscos de exploração pela prostituição e alcoolismo.

Diante da exposição das crianças indígenas ao risco de exploração sexual, os integrantes apontaram a necessidade de estratégias prioritárias para lidar com o problema.

Violência crua, um flagrante de trabalho Infantil em Matadouro.

Crianças de 12 anos trabalham com facas afiadas no corte de bois no interior do Rio Grande do Norte.

 

Texto e fotos por Daniel Santini, da Repórter Brasil
da série especial Promenino*

Atenção: texto e imagens fortes a seguir
Enviado a Lagoa de Pedras (RN) - O boi branco está amarrado pela perna esquerda, com uma corda atada a uma cerca de madeira. São doze homens dentro do matadouro municipal de Lagoa de Pedras, município do interior do Rio Grande do Norte com população estimada em 7.372 pessoas e rebanho de 5.100 bovinos. Duas crianças esperam, trepadas na cerca. O boi hesita. Um dos homens levanta uma marreta e, sem pestanejar, desce ela com toda força na direção da testa do animal.
Uma fração de segundo, o boi desvia a cabeça, a pancada passa a milímetros do seu olho direito. O lugar cheira a sangue e merda. Um dos meninos sorri. Os homens gritam, o boi gira, desesperado, preso à corda. A segunda marretada é precisa. O boi branco cai, tendo espasmos, tentando coices inúteis, morre devagar. O corpo é arrastado para fora, outro boi é trazido para dentro do galpão aberto, sem paredes, sem nenhuma estrutura. Homens jogam água no chão de cimento onde ficou sangue, há mofo na mureta que limita o espaço, o ferro que segura as telhas está todo enferrujado.
Do lado de fora, onde há mais espaço para trabalhar, outros dois meninos de 12 anos com facas pontiagudas e afiadas estão debruçados sobre outro boi recém-morto. Praticamente um em cada três habitantes de Lagoa de Pedras tem menos de 15 anos. Em 2010, a mortalidade infantil do município era de 29,6 para cada mil nascidos vivos, média bem acima da nacional (19,7) e da estadual (16,7). A atividade em matadouros está entre as Piores Formas de Trabalho Infantil estabelecidas pela Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário. Assim como os adultos, as duas crianças trabalham de chinelos, ficando descalças em diversos momentos para andar sobre a carne, com o cuidado de se equilibrar para não fazer os órgãos internos romperem.

Menino de 12 anos corta e limpa boi momentos após abate em matadouro de Lagoa de Pedras. Fotos: Daniel Santini
Menino de 12 anos corta e limpa boi momentos após abate em matadouro de Lagoa de Pedras. Fotos: Daniel Santini

Lagoa de Pedras, no RIo Grande do Norte
Pele do animal é arrancada com uma faca afiada com uma série de puxões que requerem habilidade

Lagoa de Pedras, no Rio Grande do Norte
Para a limpeza das tripas, garoto tem de praticamente entrar no boi.

 A carne ainda está quente e os músculos sofrem breves espasmos, mesmo com o animal já morto
Apenas um dos trabalhadores usa botas de plástico. Não há nenhum outro equipamento de proteção. Os meninos hesitam ao verem a chegada da equipe de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego. A auditora fiscal do trabalho Marinalva Cardoso Dantas, coordenadora do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho da Criança e de Proteção ao Adolescente Trabalhador, para ao lado dos dois. Ao seu lado, a auditora fiscal Virna Soraya Damasceno olha com dificuldade para a cena crua, vermelha. A carne, mesmo com o animal morto, ainda se mexe. São breves espasmos dos músculos, agora já descobertos, sem pele. O pai de uma das crianças, depois de cumprimentar a todos educadamente, dá um grito para um dos meninos. “Vai ficar aí parado? Não tem de ter vergonha, você está trabalhando, não na rua roubando!”.
O mais magricelo volta a se debruçar e trabalhar, e fica praticamente dentro da barriga do boi. O outro ainda titubeia por alguns momentos, antes de abaixar e ajudar o colega. Nenhum dos outros garotos que estavam esperando o outro boi ser morto se aproxima enquanto a fiscalização está presente.
Responsabilidade
A auditora Marinalva Dantas registra a situação com uma câmara fotográfica, identifica as crianças e conversa com elas. As informações servirão de base para um relatório a ser entregue ao Conselho Tutelar da cidade e para a cobrança de providências da Prefeitura em relação às condições de trabalho no matadouro municipal. A estratégia de autuar e responsabilizar o poder público é a mesma utilizada em ações em outros matadouros públicos e em feiras livres em outras das cidades da caatinga onde o emprego de crianças em tarefas pesadas insalubres é cotidiano, comum.
Em um contexto grave de pobreza e miséria, responsabilizar as famílias pura e simplesmente não basta, explica a auditora. Adultos e crianças trabalham nos abatedouros por comida. Os meninos costumam receber, em troca da limpeza do “fato” do boi, como são chamadas as entranhas do animal, miúdos e tripas de menor valor.
Crianças recebem miúdos do boi como pagamento pelo trabalho
Crianças recebem miúdos do boi como pagamento pelo trabalho

Garoto que trabalhou na limpeza leva pagamento para casa
Garoto que trabalhou na limpeza leva pagamento para casa

Também é difícil responsabilizar quem se beneficia economicamente do sistema estabelecido. Em Lagoa de Pedras, os bois costumam ser levados ao abatedouro por pequenos produtores locais e são abatidos no domingo, na véspera da feira livre local, onde a carne é vendida, muitas vezes, também por meninos. A cidade é uma das mais carentes do país. Com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de 0.553 (em um critério que vai de 0 a 1), Lagoa de Pedras ocupava em 2010 a 5.150ª posição entre os 5.565 municípios brasileiros.
Leia também: Orçamento de meio milhão para novo abatedouro está parado
Banalização
O trabalho infantil é tido como algo normal na região. Fiscalizar a prática não é tarefa fácil e há até quem hostilize os auditores. É fácil ouvir os adultos defenderem, mesmo dentro dos matadouros, que criança tem de trabalhar “para não virar vagabundo”, “para não se envolver com droga” e “para aprender uma profissão”, só para citar alguns dos argumentos repetidos a esmo.
A psicóloga infantil Christiane Sanches, do Centro de Referência às Vítimas da Violência, do Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo, alerta, no entanto, que crianças vítimas de trabalho infantil estão mais sujeitas a problemas, em especial as que se deparam com realidades cruas como a do abate de animais. “Quando a criança se depara diretamente com uma situação de extrema violência, ela rompe uma fase de desenvolvimento. A fantasia é importante, é uma forma de a criança se relacionar com a realidade”, explica, ressaltando que brincar e imaginar são atividades fundamentais para a formação de adultos responsáveis, capazes de manter boas relações sociais, relações afetivas e independência.
Garoto trabalha com os avós na barraca em que carne crua é vendida na feira livre de Brejinho (RN)
Garoto trabalha com os avós na barraca em que carne crua é vendida na feira livre de Brejinho (RN)

É fácil ver crianças trabalhando nas barracas açougue na feira de Monte Alegre (RN)
É fácil ver crianças trabalhando no setor onde estão as barracas que servem de açougue na feira de Monte Alegre (RN)

Menino manuseia faca no corte de carne de frango, também em Monte Alegre (RN)
Menino manuseia faca no corte de carne de frango, também em Monte Alegre (RN)

O risco de acidentes é maior para crianças em função da força necessária para os cortes
O risco de acidentes é maior para crianças em função da força necessária para os cortes

Nos abatedouros, a banalização da morte é marcada por episódios de crueldade e o trabalho envolve ações violentas. Entre as atividades que os garotos cumprem estão arrancar toda a pele do animal recém-morto puxando aos poucos e separando o couro com breves golpes e cortar a cabeça e as patas. A noção do que é vida e morte se dilui na mesma medida que o sangue se espalha pelas mãos, pés e pernas desnudas de moleques magrelos. A auditora fiscal Marinalva Dantas conta que em uma das ações flagrou crianças “brincando” de espetar um boi ainda vivo com lâminas.
Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento, a psicóloga Christiane Sanches explica que a frieza e falta de sensibilidade podem ser mecanismos de defesa de crianças que tiveram contato com eventos de extrema agressividade. “A família tem de ter a preocupação em relação a uma profissão, mas dentro de uma faixa de desenvolvimento adequada. É preciso respeitar etapas. O trabalho infantil é uma ruptura do que se espera de determinadas fases. Quanto menor a faixa etária, mais grave a situação”, alerta, destacando que o fato de a atividade ser considerada normal pela comunidade agrava a situação. “Ao fazer o corte, a criança está seguindo o modelo da família, está exercendo um papel dentro da sociedade. Se não aceitar, está excluída, o que provoca desamparo emocional. Não trabalhar vira uma vergonha”, diz.
Estômago aberto, sangue e fezes
Em um canto do abatedouro, um dos cachorros que ronda o local aproxima-se de um pedaço de carne crua sangrando. Com uma machadinha na mão, um dos adultos que trabalha quebrando os ossos da base do peito de um boi morto para ao perceber o avanço, gira o instrumento e dá um golpe com o cabo. O animal dá um ganido, late e se afasta rápido, a tempo de evitar a pancada. A dois passos, outro trabalhador carrega o intestino de um boi.
Ele faz furos com o facão para o ar sair e a pele não romper ao ser erguida, leva com cuidado o órgão até o fundo do terreno e, com um golpe seco, abre o intestino. A merda escorre em um canal aberto junto com sangue e outros dejetos. Um tanto se espalha no chão, o homem caminha descalço sobre a sujeira. O cheiro é insuportável. A menos de dois passos, os garotos trabalham no boi, terminando de separar os pedaços de carne. “A gente se corta às vezes. Eu já fiquei com o pé todo em carne viva”, conta um dos trabalhadores adultos, puxando e ajeitando um pedaço de carne com a faca. “Trabalho com isso desde que eu tinha 9 anos. Aqui todo mundo é assim. E trabalho para viver. Melhor do que roubar, né?”, conta.
Cachorros circulam o matadouro, que é todo aberto. Sangue e fezes escorrem em canais
Cachorros circulam o matadouro, que é todo aberto. Sangue e fezes escorrem em canais

Trabalhadores usam chinelos ou trabalham descalços, caminhando sobre resíduos
Trabalhadores usam chinelos ou trabalham descalços, caminhando sobre resíduos

Por si só, as condições de trabalho em abatedouros e empresas de processamento de carne já são consideradas problemáticas. Em 2011, de acordo com dados do Ministério da Previdência Social (MPAS), ocorreram 19.453 acidentes de trabalho e 32 mortes envolvendo o setor. Os problemas levaram o Ministério do Trabalho e Emprego a estabelecer em abril de 2013 a Norma Regulamentadora nº 36, que, entre outras medidas, determina adequação e organização de postos de trabalho.
Em Lagoa de Pedra, crianças e adultos que trabalham no matadouro ostentam cortes abertos, marcas de acidentes leves ou profundos. “Trabalhadores com lesões e feridas nas mãos devem ser afastados da função e evitar o contato direto com a carne, uma vez que isso pode facilitar tanto a contaminação da carne que está sendo manipulada como a infecção do trabalhador”, explica a bióloga e veterinária Isabel Cristina Lopes Dias, mestre em Saúde e Ambiente.
“A desproteção desses trabalhadores e o contato direto e/ou indireto com animais e/ou suas secreções são situações críticas de exposição e transmissão de microrganismos zoonóticos. As crianças estão mais vulneráveis tanto às doenças quanto aos acidentes, pois precisam realizar tarefas e manusear instrumentos desconexos de sua capacidade física e psicológica, justamente em uma fase em que são mais imaturas e ingênuas.”

sábado, 30 de novembro de 2013

'Estou supermotivado, feliz. É um recomeço', diz Felipe Massa

Apesar de a Williams ter feito péssimo papel em 2013, piloto acredita que pode conquistar grandes resultados no ano que vem.

 

Hora de virar a página e começar a escrever um capítulo novo. É assim que Felipe Massa define os quatro últimos anos na Ferrari, ao lado de Fernando Alonso, e o desafio que terá pela frente agora, o de ajudar a Williams a ser grande novamente. Não será fácil. O melhor time da década de 90, campeão em 1992, 1993, 1996 e 1997, disputou em 2013 a pior temporada de sua rica trajetória de 40 anos na Fórmula 1.

Felipe estreia na Williams em 2014 - Filipe Araújo/Estadão

Neste sábado, como divertimento e exercício para se manter em forma, Massa disputou a tradicional prova 500 Milhas de Kart, no kartódromo Beto Carrero, no município de Penha, em Santa Catarina. Na semana que vem, ele já embarcará para a Inglaterra a fim de se reunir com integrantes da Williams, como Pat Symonds, o engenheiro que está reestruturando o time. Nesta entrevista exclusiva ao Estado, realizada em Interlagos, Massa disse estar entusiasmado com a missão de liderar o projeto de uma organização de tantas conquistas importantes.

A Williams o contratou por sua grande experiência, 191 GPs, a maior parte numa escuderia vencedora. Em 2008, Kimi Raikkonen parecia desestimulado e a Ferrari contava mais com você. Foi sua melhor temporada na Fórmula 1. Vê semelhança entre sua função em 2008 e a que assumirá em 2014?
FELIPE MASSA -
Vejo, sim. É importante você ter toda a força da equipe com você, se sentir peça importante, assumir a liderança e contar com toda a confiança possível de todas as pessoas do grupo. Quando vivi isso, demonstrei bom resultado no final. Neste momento, estou pronto para dar tudo o que posso e conseguir esses resultados de novo, não só para mim, como para a equipe. Estou supermotivado, feliz. A maior parte da minha carreira vivi na melhor escuderia da Fórmula 1, a Ferrari. Na Williams, meu principal trabalho vai ser usar o que aprendi para criar as condições necessárias para lutar pelos melhores resultados. É um recomeço, um estímulo novo.

Na hipótese de a Williams construir um carro vencedor, você se sente capaz, ainda, de ser campeão do mundo?
FELIPE MASSA -
O dia em que você não se enxergar mais campeão é porque não está fazendo a coisa certa. Confio no meu taco, faz parte, sim, do meu sonho vencer o campeonato. Se você tem um sonho, tem de lutar para torná-lo real.

Você é um profissional realizado, bem-sucedido, independente financeiramente, já foi vice-campeão do mundo, disputou 11 temporadas, venceu 11 GPs, largou 15 vezes na pole position e, mesmo assim, fez de tudo para continuar na Fórmula 1. Por quê?
FELIPE MASSA -
Porque eu acho que tenho ainda o que fazer na Fórmula 1. É o que eu gosto de fazer. É difícil deixar a carreira. Tenho só 32 anos, muita vontade, não estou na época de parar. Para mim, idade para abandonar a Fórmula 1 é de 35 anos para frente. Eu me sinto com gás para lutar e com potencial, ainda, para vencer. Enquanto não tinha nada na mão, ficava pensava no travesseiro... Tenho ainda uns três ou quatro anos pela frente na Fórmula 1.

Sua esposa não esconde que preferiria que você deixasse a Fórmula 1...
FELIPE MASSA -
Ela de fato gostaria que eu parasse de correr, mas também me conhece, sabe que não seria um homem feliz dentro de casa. Minha felicidade é correr e ela quer o melhor para mim. E já conversamos sobre eu continuar competindo em outra categoria quando deixar a Fórmula 1. (Massa já disse que o conceituado Campeonato Alemão de Turismo, em que competem Mercedes, Audi, BMW, por exemplo, o atrai bastante).

Foram seus companheiros de equipe Jacques Villeneuve, Michael Schumacher, Kimi Raikkonen e Fernando Alonso. Em comum entre eles, o fato de serem campeões mundiais. Essa convivência representou uma excelente oportunidade de aprendizado. Em que área da formação de um piloto você crê que mais tem de se concentrar para evoluir?
FELIPE MASSA -
Em todas. Há corridas em que você faz um trabalho perfeito, decide certo em qualquer condição. Mas há provas em que você vai compreender depois que o melhor teria sido seguir outro caminho. Isso ocorre com frequência. Nesse sentido, acho que o Alonso conseguiu usar melhor do que eu as dificuldades que tínhamos, com um carro complicado. Eu não o explorava tão bem esses anos todos. Faltou sempre aquele detalhe para mim. Não que se eu também tivesse me adaptado mais a nossos carros, aos pneus, eu teria sido campeão. Ele também não foi, mas pelo menos teria, como ele, entrado na luta. Hoje vejo que foi isso o que faltou para mim. É verdade, ainda, que as reações do carro e dos pneus casaram mais com o estilo do Alonso. Vamos ver como será em 2014. Pilotei no simulador o carro da Ferrari, com os dados do ano que vem, e a diferença é enorme, há muito menos aderência.

Você marcou pontos já na sua segunda corrida de Fórmula 1, mas acabou não permanecendo na Sauber depois da temporada de estreia, em 2002. Sua vida na Fórmula 1 foi caracterizada por grandes desempenhos e índice elevado de erros. Com a experiência de hoje, o que faria diferente do que fez?
FELIPE MASSA -
Em primeiro lugar, eu diria que teria sido melhor começar a carreira como piloto de testes, por um ano. Mas a chance surgiu e, para ser piloto de Fórmula 1, você tem de aceitar, não tem opção de escolha, é assim que funciona. Eu era muito jovem, tinha 20 anos apenas. Queria tanto que às vezes errava, mas meu primeiro ano foi bom, não era para ter sido mandado embora. O carro da Sauber era pior do que o do ano anterior, o melhor do time. Dei azar de o dono (o suíço Peter Sauber) odiar quando um piloto batia e eu, pela inexperiência, bati algumas vezes.

Na temporada que acabou no domingo passado, você se envolveu em alguns acidentes e admitiu ter cometido erros. Além disso, o confronto com Alonso nos últimos quatro anos o fez perder parte da popularidade da época em que quase foi campeão do mundo, em 2008. Como você
lida com isso?
FELIPE MASSA -
Sempre fui sincero, honesto, a carreira inteira. Nunca inventei nada para justificar isso ou aquilo. Quando surge um problema, sou o primeiro a falar. Para falar a verdade, eu também acho que não estou no momento que gostaria de estar, como resultado, em geral. Mas sempre que encontro pessoas no meu País, independentemente do lugar, sinto que não perdi torcida. Se você lê um blog, a maior parte dos que comentam não escreve até mesmo o que pensa, quer fazer charme. Se você entra num site de futebol, os caras matam jogador todo dia. Se entrar num de Fórmula 1, você encontra a torcida e os que estão lá para aparecer. A torcida mesmo sempre vai continuar torcendo, nunca perdi torcedores no Brasil. Lógico, sei que há quem tenha começado a pensar que eu já não faço mais o que fazia antes. Eu sou o primeiro a analisar que os resultados não têm acontecido como no passado. Mas a minha torcida sempre se manteve fiel, assim como o respeito do povo brasileiro e é isso o que mais me motiva e me interessa.

Quer dizer, então, que na sua opinião você não tem nenhum índice de rejeição?
FELIPE MASSA -
Alguma coisa, sim. Mas depende do lugar. Os que torciam antes continuam torcendo

Preço da gasolina sobe 4% a partir de sábado

Já o diesel ficará 8% mais caro nas refinarias; para o consumidor final, aumento da gasolina na bomba deverá ser de até 2,5%.

SÃO PAULO - A Petrobrás informou nesta sexta-feira que os preços da gasolina e do diesel serão reajustados nas refinarias a partir da 0h deste sábado, dia 30. Para a gasolina, o aumento é de 4% e para o diesel, 8%. O reajuste foi decidido hoje durante a reunião do conselho de administração da estatal.
Para o consumidor final, o aumento da gasolina deve representar uma alta de 2% a 2,5% no preço na bomba, segundo cálculos do economista da LCA Consultores, Fábio Romão.
Segundo a empresa, os preços da gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste anunciado, não incluem os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo estadual ICMS.
O fato relevante afirma que a implementação da política de preços visa a "assegurar que os indicadores de endividamento e alavancagem retornem aos limites estabelecidos no Plano de Negócios e Gestão 2013-2017 em até 24 meses, considerando o crescimento da produção de petróleo e a aplicação desta política de preços de diesel e gasolina".
Outro objetivo da empresa é alcançar, em prazo compatível, a convergência dos preços no Brasil com as referências internacionais. Além disso, com esse modelo, a estatal busca não repassar a volatilidade dos preços internacionais ao consumidor doméstico.